segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eu vi o amor

“Coração quebrado tem cura: a paz de não precisar mais aguardar a perfeição que não existe” diz a escritora Fernanda Young em um dos seus livros. Observe o quanto é difícil encontrar uma história de amor atual que seja feliz.

Semana passada minha mãe e meu ‘paidrasto’ reafirmaram uma união de vinte anos. Casaram novamente. Na minha presença, pela segunda vez, e na presença das minhas irmãs. Uma cerimônia linda de renovo, de promessas, de juras; umas secretas, outras não e principalmente da reafirmação pela certeza de terem feito a escolha certa um pelo outro. Foi um momento inesquecível e emocionante para nossa família.

Temos uma vida muito simples, e por conta das limitações da minha irmã meus pais se privam dos programas sociais, substituindo um ao outro quando é algo imperdível. Na minha casa a essência é priorizada. Nada é superficial. Eles nos ensinaram a valorizar cada presente de Dia da Criança e cada pessoa que conhecêssemos na vida. O carinho deles é de uma cumplicidade tão grande que eu vejo amor no olhar até nas horas de desentendimentos.

Uma prima atrevida perguntou a mamãe “qual o segredo para tantos anos de convivência sem abusar?” e ela respondeu “-eu abusei! Abusei, várias vezes. Mas a cada amanhecer eu o olhava como se fosse à primeira vez e me apaixonava novamente”. O problema é que o nosso coração é automaticamente programado para esperar as coisas terminarem. A gente começa um trabalho pensando em terminar, engravida pensando na hora do nascimento e casa pensando na separação. Já ouvi várias vezes “ahhh, vou casar se não der certo, separo” por isso, não casei ainda, porque ninguém casa só. Não quero casar para viver um conto de fadas – para a felicidade da Fernanda Young o meu coração já foi quebrado várias vezes- e quero casar para chegar ao fim do dia fazendo abrigo do sorriso de alguém. Casamento não é olhar um pro outro o tempo inteiro e sim, os dois olharem juntos na mesma direção.

E eis o desafio que muitos não conseguem: ter o mesmo objetivo, atingir as mesmas metas. Daí vem o descompasso e automaticamente lembro-me do consolo de Caio Fernando Abreu: "Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

E por que não ‘ser novo’ agora? Por que não agir como se fosse à primeira vez, o primeiro encontro? Sair pra vê o pôr do sol, pra dançar, pra namorar no cinema, na praia, no park, na praça. Se não há vontade de viver simplicidade com quem está ao lado, não sinto amor, não ouço o som orgânico que faz a paixão, não vejo felicidade no olhar.

Eu vi o amor na manhã serena da última sexta-feira, ele caminhou lento, livre, fraterno, terno, eterno. Fechei os olhos e quando os abri, observei, eles estavam olhando na mesma direção. Na nossa direção.

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