segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Seja do jeito que for, venha!


Vem cá, vai ficar fazendo charminho mais uma vez? Vai agir como um adolescente indeciso? Não vai me contar as novidades, né? Poxa, quero saber o que você pretende comigo, pô!

Estou contando os dias para sua chegada. Comprei lingerie nova, vestido novo, acessórios, marquei um dia de tratamento completo no salão; faço questão de quê você me encontre muito bonita.

Quero você Feliz e prometo fazer todo possível para que seja uma alegria atrás da outra. Botei uma garrafa de vinho do porto na geladeira para brindarmos nosso encontro. Receio, porém, que de mim pouco dependa.


Seja do jeito que for, quero que você venha. É sempre estranho, mas quando sei que você estar por chegar me encho de esperança. Falando nisso: gostaria de dizer que eu não tenho expectativas em relação ao que você vai me trazer, mas tenho. Principalmente porque você sabe tudo de que eu preciso e tem espaço suficiente para que várias dessas coisas caiba.


Não sou muito fã de surpresas, você sabe, então não precisa se esforçar demais para me surpreender. Adoro coisas simples. Se por acaso me trouxer algumas más notícias, tudo bem, mas tente não ser abrupto. Sei que vários problemas estão fora do seu alcance; portanto, prometo não me aborrecer caso algo não venha como eu esperava, e, de repente, você arrume as malas para ir embora.


Traga o que trouxer - fique tranqüilo - você será recebido com foguetes, sorrisos, abraços e muito carinho. Sua chegada, sempre tão pontual e garantida, cheia de promessas, sempre tão amplas e verdadeiras, renova, em mim, a esperança que se vai, pouco a pouco, a cada dia. Ai, ai, ai, ai... está chegando a hora! Lembra tudo que conversamos? Pois bem, Silêncio. Vou fechar os olhos.


Seja bem-vindo, Ano Novo!


Obs.: caso venha com muito dinheiro no bolso, conforme espero, me proteja de todo o mal. Amém! =D

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fé, amor e compaixão






Fé é o fundamento da esperança, é a certeza antecipada. Ela nos faz enxergar aquilo que ninguém enxerga. É insistir sem notícia alguma.

AMOR

Amar é transformar, é olhar o outro e ver além daquilo que está estampado na sua aparência. Alguém que é capaz de nos transformar porque nos enxerga além dessas aparências. Alguém que nos olha e enxerga aquilo que podemos nos tornar na medida em que somos amados e experimentamos o amor.

COMPAIXÃO

Ter compaixão é você andar no passo do outro; é você ser mais caridoso. Se o outro vai mais devagar, você vai mais devagar com ele. Ter compaixão é não julgar ninguém.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vai...

És dos males o pior dos problemas.
Da tristeza és amigo íntimo.
Vai, segue e some.
Póstumas lembranças... Cala-te na noite.
És culpado-mor de tristes recordações que assolam a mente minha.
Mal intento,
Escurece essas lembranças!

És como a noite; tens utilidade única de inspirar.
Vai, frio e calmo.É quando presto.
Enquanto dormem todos.
É quando existo... Que mais penso.
É quando sou algo para alguém.
Enquanto você dorme o sono dela.

Vai, sussurra teus segredos.
Furta meus medos e desejos.
Queima meus medos. Nas cinzas se misturem os desejos.
Leva os mais profundos para junto dele, Noite.
Faz com que ele saiba...

Vai noite, me entenda e atenda.
Vigilante das causas perdidas e dos crimes (quase) perfeitos.
Testemunha oculta de atrocidades mil.Saturna, triste e acuada. O que podes fazer?
Nada. Apenas sofre junto.
Vai:
Segue, some, entenda e me atenda.
Vai. Traga-o. Preciso ouvi-lo, preciso tocá-lo quente...

Ele me sussurra teus segredos de uma maneira fria e calma.
Se tens som, a melodia é de uma triste suavidade.
Melancólica e cadenciada. Sinto que anseia por gritar, quebrar nosso silêncio. Espera.
Vou noite, me calar para te ouvir.
Agora, no escuro desse hospital, antes que essa crise cure.
Antes quê o que nunca existiu se acabe.


Adaptado do Poema "Da Noite - Jonâtas Andrade"

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Esses meus cabelos brancos...


“Devia ter arriscado mais”. Estou fazendo as mesmas coisas diariamente e reclamando da rotina. Acostumei meu corpo e meu cérebro a acordar e dormir. Quando estou sem tempo, quero férias, quando se cogita férias suplico resmungando o medo de ficar o dia sem ter nada para fazer.

A verdade é que reina a insatisfação e eu me agarro à rotina por medo das conseqüências que uma simples mudança possa me trazer. Não sou diferente da humanidade, todo mundo tem medo de mudar. Experimentar o novo – e quem está escrevendo isso é uma pessoa inconseqüente e impulsiva – desespera.

Ontem sem esperar, notei meu primeiro fio de cabelo branco. Estava no trabalho, na minha sala e fui prender os cabelos quando vi aquele fio prateado, luminoso e destacante em meio aos outros marrons – dourados. Levantei as pressas e fui confirmar em um espelho maior, arranquei-o imediatamente, liguei pra minha cabeleireira e passei o resto do dia conversando com o fio e querendo convencê-lo de quê ele tinha nascido na cabeça errada. Hoje, escovando meus cabelos, ela achou mais dois.

Vou fazer 25 anos daqui a quatro meses e vendo flashes do Carnatal pela TV no final de semana vi que ainda não vivi quase nada. Nunca tomei glicose na veia por beber demais, nunca beijei dez garotos embriagados na mesma noite, nunca fui ao show da Ivete, nunca dormi numa calçada, nunca transei com alguém que conheci na farra e nunca cometi muitos exageros por diversão. Não, não sou certinha. Já fiz até coisas piores dependendo do referencial; o quê me vem em mente é a minha falta de futilidade e jovialidade.

O meu maior problema é que comecei a viver de trás pra frente. Ser precoce é bom, mas como tudo na vida a independência também tem seu preço, e eu sinceramente, sinto muita falta de poder passar o mês de janeiro inteiro na praia tendo como maior preocupação o tom do bronzeado.

Mas o tempo e o trabalho, coitados, não têm nada com isso. A culpa é minha. Ultimamente, até dos compromissos profissionais – eventos, viagens - eu tenho fugido. Eu ando “velha e chata” como me disse Robertha num ataque ao telefone outro dia. E estou mesmo. Não tenho a menor disposição de sair de casa, e aguardo o dia inteiro a hora de chegar, armar uma rede e ficar tendo overdoses de filme e música. É grave, eu sei, mas não tenho vontade de mudar e como disse minha tolerante terapeuta, talvez seja dessa tal mudança que eu tenho medo.

Bem, a única coisa que pode diminuir o nascimento de mais alguns fios brancos é coragem. É lembrar-me que apenas as mudanças, com as decepções e desilusões que elas me trarão me livrarão de algumas preocupações e naturalmente exalarão vontade de viver. Afinal, uma mudança que nos traz conseqüências ruins jamais será esquecida ou repedida. E uma mudança boa será incluída no velho dia-a-dia como um salto de liberdade.

E o melhor a fazer é pensar nessas coisas outra hora, senão, perderei o sono. Vou armar minha rede, se amanhã não mudar, pintarei os cabelos de azul que é mais prático.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Massagem, em alguns toques




Nunca ninguém tinha tocado as costas dela como ele. Um toque desconhecido que virou vício. Nada relaxava e acalmava mais do quê aquelas mãos quentes e macias deslizando no seu corpo como um fio de seda. A entrega podia ser comparada a uma preliminar sexual, olhos fechados, respiração ofegante e puro esquecimento.

Todas as semanas ela marcava as primeiras sessões da sexta-feira. Chegava, deitava na maca, e entregava-se as mãos daquele rapaz como se entregou a poucos homens na sua vida. Aquelas mãos leves percorriam cuidadosamente cada parte das suas costas, descendo pelos braços, subindo para os ombros, nuca, indo até as pernas e alternando o ritmo dos movimentos que a faziam narcotizar no tempo.

Depois de três meses nessa rotina semanal, aquele homem já conhecia cada parte do seu corpo; ombros, braços, pescoço, pernas. A semana começava na sexta-feira, na hora de encontrá-lo. As primeiras sessões eram silenciosas, escuras, comandada pelo mantra repetitivo do MP3. Depois começaram os papos, a divisão de cotidiano, a troca de experiências, os detalhes em comum, a paquera, o fogo frio que acelerava o coração.

Encontro marcado. Produção, vestido vermelho, salto alto, maquiagem, perfume francês, celular desligado, pontualidade, expectativa. Um atraso? Mas ele não iria se atrasar no primeiro encontro. Ligou o telefone, pensou em mandar um SMS, desistiu. Pediu uma dose de vinho, acendeu um cigarro, olhou o relógio pela décima vez. Cada taxi que passava, cada carro que parava. Nada d’Ele chegar.

Lembrou-se da frase de um amigo escritor contemporâneo que diz “as expectativas fodem tudo” e ela só queria isso com ele mesmo, mas deixar claro seria vulgar demais para uma mulher. Depois da quinta dose ela resolveu ir embora, três horas e meia de atraso, ele não ia aparecer, de fato, não apareceu.

Segunda-feira. A semana ia começar por outro dia. Horário marcado. Ela só tinha que agir como se nada tivesse acontecido. E agiu. As mulheres têm esse dom de fazer que as coisas que aconteceram, ‘desaconteçam’. Passou calados os 45 minutos do atendimento. Não deu a ele sequer um olhar.

As mãos antes firmes trabalhavam trêmulas, suavam frias, percorriam àquele território tão conhecido com a pressa da imperfeição. Não houve entrega. Ela não relaxou como das outras vezes. Ao terminar a sessão levantou-se em um silêncio incomum, tirou da bolsa um bilhete que deixou sob o lençol branco que revestia a maca – testemunha única daquelas sensações. Vestiu-se. Se foi.

Ele pegou o bilhete e colocou-o no bolso da camisa. Não teve coragem de ler. Chegando em casa, acendeu as luzes, ligou o som, abriu uma cerveja e ficou pensando o que teria escrito naquele papel verde limão. Seria o pedido de outro encontro naquela noite?

Abri-o lentamente. Uma caligrafia nítida e cursiva declarava diretamente: “eu teria feito amor com você... de maneiras que você mal poderia imaginar...mas você é incoerente e eu não ficaria entregue em silêncio, desejando, à espera de toques ardentes.”

Parecia que a voz docemente segura dela entoava ali. O som da respiração, do suspiro. Ele inalou às próprias mãos na tentativa de sentir algum vestígio do cheiro daquela mulher. Não restava mais nada.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dio, come ti amo.


Quem não for exagerado com suas paixões que me atire à primeira pedra. Eu sou, sou muito exagerada. Prefiro a sobra, à falta. Sofre o quê me apego, me jogo, não consigo obedecer regras e nem sei o que é limites.

Não sou boa em estatística, mas quase 30% do meu salário eu gasto com literatura, música e cinema. Esse mês de dezembro vou fazer as contas para ter noção. É quase uma obsessão.

Começo minha romaria pela sessão de CD’s fico horas vendo lançamentos e procurando além de sambas, coisas estranhas, regravações, relançamentos e claro, clássicos antigos. Depois sigo para os filmes, e quando Nicole (uma grande amiga mais viciada que eu) está longe – na maioria das vezes – fico trocando SMS, pedindo sugestões e rasgando a alma com trechos das sinopses. Na literatura, Jônatas (o melhor vendedor de livros do mundo, e qualquer dia vou escrever só sobre ele) me controla ou descontrola.

Pois bem, quem me conhece sabe o quanto eu sou saudosista, sinto saudades até do que não vivi. Sempre tive muita vontade de assistir ao clássico ‘Dio, come ti amo’, passei anos procurando, tentei sebos, livrarias, internet; quando encontrava, ou o vendedor era de longe, ou não tinha versão em português, ou não estava em bom estado de conservação, sempre tinha um empecilho, e um dos meus maiores sonhos era presentear minha mãe com esse filme. Foi no Cine Pax, em uma nova exibição de 1980 que os meus pais deram o primeiro beijo, embalados na canção de Domenico Modugno.

Final da manhã no último sábado, em Fortaleza, fui ao Aeroporto Internacional Pinto Martins esperar meu noivo que chegaria de Natal, sorte minha esquecer pela milésima vez em um mês que o país está funcionando pelo horário de verão. Caminho impaciente, quando de repente me vejo na porta da Laselva Bookstore, e coisa sortida é livraria de Aeroporto; tem tudo, em todos os idiomas. Entrei, lá não sentiria a hora passar.

Até que quando menos espero me deparo com a expressão forte de Gigliola Cinquetti e o olhar malandro de Mark Damon ilustrando a capa do DVD azul, em versão restaurada e remasterizada de colecionador. Tinha cinco, quase compro todos, mas pensei “outras pessoas precisam vê”, trouxe dois, o meu e o de mamãe. A minha felicidade era empolgante, notei que o rapaz do caixa estranhou, embrulhou para presente, enquanto eu escrevia a dedicatória mais ‘sem ter o que dizer’ da vida. Quando saí da livraria, deixei escapar uma lágrima de felicidade que não virou choro porque o telefone interrompeu, e era ela. Nós temos essa espécie de telepatia. Já comprovamos outras vezes. Sentimos tudo de bom e de ruim uma com a outra.

Cheguei de viagem e entreguei o pacote, ela abriu, olhou frente, verso, sorriu, me abraçou e silenciou. Corri para o meu quarto e fui assistir. Que produção linda! Edição, fotografia, trilha, tudo de hipnotizar. Em preto e branco. O entrosamento dos atores, os detalhes, a delicadeza, a harmonia das discussões, a simplicidade, a naturalidade, a verdade. Foram 1h47m de êxtase total e a comprovação de que não se faz mais cinema como antigamente. Parece que para os grandes diretores nada funciona mais sem explosões pirotécnicas e perseguições alucinantes.

Tudo na vida tem seu tempo certo. Se eu tivesse assistido em qualquer outro dia não teria feito o sentido que fez. Eu não teria o entendimento que tive, não teria sido a mesma emoção e eu não estaria apaixonada até agora. Já vi novamente. Até antes de ontem ‘Non ho l’età’.