segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fechando o verão

Eu precisava desopilar e a necessidade veio no verão. Apesar de morar numa cidade muito quente considero o calor um estado insuportável. Mas eu precisava ir. Precisava de liberdade e ar. Precisava não ler os emails, não atender as ligações, não receber visitas estranhas durante horas.

Todo mundo cresceu e eu nem vi! Senti saudades de quando era criança e passava o mês inteiro em Tibau, tendo como única preocupação as festas do Álibi e o tom do bronzeado. E por isso tive que ir, precisava recuperar o que estava se perdendo, nem que fosse por uma semana.

Dormir tarde, acordar cedo, tomar sol, balançar bem alto no alpendre, jogar frescobol no fim da tarde, jogar baralho – fazia uns cinco anos que eu não aprumava um baralho nas mãos, que eu não jogava uma partida de pôquer – que eu não passava o dia de biquíni. Viver descompromissadamente. Viver. Sentar e conversar horas com minhas amigas e recordar tudo, todas as fases e todos os tempos, prevê o futuro.

O veraneio de Tibau mudou. Hoje, não gosto mais do movimento da praia do Ceará, nem dos garotos sarados que arriscam surfar nas ondas baixas das Emanuelas. As candidatas à Musa do Verão 2009 eu vi crescer e a prefeitura está tirando todas as barracas da beirinha da praia para construir um calçadão. Morri de saudade, chorei de solidão.

Na tentativa de inovar fui para as praias turísticas da capital. Pirangi, Pipa, Genipabu, Redinha, Jacumã, tudo ecologicamente urbanizado, tudo belo, encantador, cheio de energia, de vida, de luz. Não fosse o costume das pessoas. Estranho como o povo de uma capital nunca é gentil e hospitaleiro como o povo do interior. Mesmo sem saber de onde a gente veio, nem pra onde a gente vai ressaltam uma petulância e respiram um ar de autoridade. Sempre tive essa impressão. Chamou-me atenção também a semelhança entre as mulheres. Um homem que saí para paquerar em um bar de Pirangi, por exemplo, deve ficar confuso com tanta mulher semelhante; rosto, cabelo, dentes cintilantes, tom do bronzeado, jeito de vestir, modelo do relógio, cor das roupas, marca do celular, por muitas vezes eu olhava de lado e achava que a menina tinha ido ao banheiro trocar de roupa e era outra.

Sem contar o escândalo que um aspirante político deu na porta porque era uma autoridade e estava acompanhado das filhas de fulano e sicrano que eram tão importantes quanto à cerveja está gelada, então, apesar do bar lotado, sem mesas, ele tinha que entrar. Morri de rir quando ele perguntou ao segurança: “amigo, você sabe quem eu sou? Você sabe com quem você está falando?” Sinceramente, tive vontade de voltar pedir um autógrafo e tirar uma foto para colocar no orkut. Não é todo veraneio que a gente esbarra com Bin Laden.

Meu coração, que viajou vazio e aflito, voltou inspirado e feliz. Dos lugares que eu conheço, Natal é o único que me balança para ficar. Mas, sinceramente; eu viajaria o mundo mil vezes, só pra poder voltar. Porque o melhor momento de qualquer viagem é ter pra onde voltar.

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