segunda-feira, 6 de julho de 2009

Brigas


Desconfio dos casais que não brigam. Desconfio de um amor que não tenta encontrar um denominador comum. Desconfio dos relacionamentos que não têm crises, de pessoas que convivem e não discordam.

Tenho uma amiga que não briga com o marido há mais de três de anos. Quando um pensa em discordar do outro se policiam e alguém cede. Na teoria é lindo. Mas, desconfio da prática de um trato desses.

Ficou de ligar e não ligou, ela não liga para não incomodar. Esqueceu o aniversário de casamento, ela não lembra porque são datas que tanto faz. Disse que ia ver o futebol e só voltou em casa na segunda-feira, ela não arruma as malas dele. Cortou 30% da verba do supermercado e ela não soltou nenhuma piadinha. Ah, tenha santa paciência! ‘Amélia – a mulher de verdade’ só existe no samba de Mário Lago e Ataulpho Alves e eu, na vida real só conheço minha pobre amiga.

Coitada! Não conhece a primavera do relacionamento. Não conhece a melhor parte da convivência: as brigas. As doces discussões que depois de um, dois dias, ou de meia hora rendem um jantar, regado à inenarráveis sobremesas. As brigas entre os casais são o domingo do amor. As reconciliações regadas a charmes, mimos, promessas e aos mais quentes ‘eu te amo’. Dependendo do grau da raiva, rola até uma viagenzinha ao exterior para apimentar a relação, com um manual de Kama Sutra na bagagem, claro.

Desconfio dos casais que não brigam. Desconfio do amor que não se aprimora. A imposição não amadurece, acumula.

Brigar não é fazer barraco. Jogar o jarro contra o espelho. Arranhar o carro. Bater a porta. Não é impor. Não é proibir. Não é dar satisfação de cada passo. Não é desligar o celular. Brigar não é tomar porres. Gritar, agredir, trair. Brigar não é fazer as coisas de próposito, para magoar. Nem atentar para as futilidades. Não é brigar “por coisas tão banais”. Brigar na relação é encontrar-se. Brigar com quem se ama é descobrir-se no outro. É amar além de si.

Respeite os limites. Mas, de vez enquando... Nos dias de rotina...

Um olhar daqui, outro de lá e as nuvens formarão tempestades de desejo.

Briga, vai! Não precisa motivos. Depois, acaba na cama.

2 comentários:

Unknown disse...

Brigas...Adoooooro...
Amei Laris...o texto....quem vive sem brigar, num sabe o que é ser amada, valorizada , não sente o prazer da descoberta, do encontro , o calor da reconciliação, por isso, de vez em quando eu BRIGO...pra apimentar mais ainda a relação ...

Bom dia...

Fernanda Sousa disse...

um amor quieto eh quase um crime! as poesias, as músicas, as letras mais lindas são de turbulencias do amor! então, saudemos a inspiração na tempestade!

adorei seu blog!
beijo.