segunda-feira, 8 de março de 2010

Pós-liminares

Quando o sexo vira uma situação automática não precisa de ambiente, luz de velas e muitas palavras. Quando eu falo situação automática me refiro ao fato de se ter parceiro fixo e claro, ativo sexualmente.

Vou explicar; sábado à noite: os preparativos começam pela manhã. Salão de beleza: massagem, unhas, cabelos, depilação, o sono da tarde, a ligação as dezoito e pouco. Um sorriso. Você se arruma; perfume, lingerie, rimel – com o cuidado de separar cílio por cílio com o palito de dente, não necessariamente nessa ordem, e vão para o cinema, depois para o barzinho, uma dose, outra dose, um beijo daqui, outro de lá. E quando ele coloca a mão no seu joelho direito, quase pegando na sua coxa você pensa “hoje tem”. Se não tivesse, seria um sábado perdido, para mim, pelo menos. Não importa se antes de dormir, ou quando acordar.

Sou uma mulher péssima para as tarefas de casa, confesso. Acho que não casei ainda por isso, as coisas mudam, mas, dificilmente, eu lavaria um banheiro às dez horas numa manhã de segunda-feira. Fui criada para fazer cama. Cozinha e lavanderia eu pago para fazerem. Nada de errado. Estou cumprindo minhas 'obrigações' de mulher. Mas, não me vejo lavando fundo de cueca. Até que com o fogão, por necessidade, rola uma torrada, um brigadeiro, uma macarronada, mas com rôdos, vassouras e amaciantes, só rola o desejo de guardá-los na dispensa, nada muito intimo.

Jamais disfarçarei o prazer de ficar entre os lençóis nas manhãs de domingo até as dez, onde, doze, uma da tarde. Primeiro para compensar a semana inteira acordando às seis horas, segundo porque gosto de adiar ao máximo o banho depois do sexo.

Acho um crime imperdoável ao cheiro da pele do outro essa mania de correr para o chuveiro depois das juras de amor. Durante, não. Depois tem que deixar cicatrizar. Tirá-lo de mim pra quê? Depois vou sentir saudade. Depois vou ficar cheirando minhas mãos, meus braços, meus ombros procurando vestígios do corpo dele, das mãos, do toque, do cheiro.

Estou evitando o banho logo após do sexo.

Se for na minha cama, evito trocar as fronhas e os lençóis para que fiquem até os fios de cabelos.

Se as marcas não saem do coração, do corpo e da cama é que elas não devem sair.

5 comentários:

Grazi Rebouças disse...

Adoro seus textos...

Helouise Melo disse...

Texto muito bem escrito e muito gostoso de ler, Laris! Mas o mais interessante é se ver nos seus relatos. Um beijo grande!

@monicacompoesia disse...

Confessar a sensiblidade que se alia a sensualidade como a mais pura expressão do sentimento de uma mulher felizmente hoje em dia já não é mais pecado. Pecado é não fazer deste lado tão encantado da vida poesia.

O Neto do Herculano disse...

Brilhante e confessional visão feminina, aos homens resta tentar aprender um pouco da lição.

Gilterlan disse...

Excelente texto!