Descobri que só tenho três meses de vida. E agora? O que faço? Se viver três meses e um dia conseguirei fazer uma programação do que farei a cada hora do tempo que me resta. Se não viver, já lhes dei meu último adeus.
Agora sairei por aí. Correndo de tanta felicidade. Quero sentir o sol queimar o meu rosto e quero escolher onde jogarão minhas cinzas. Quero fazer uma seleção de músicas latinas, de bossas, de sambas, de clássicos, de pop, de rock, de blues e jazz para ouvir o tempo inteiro – que me resta. Quero escolher uma roupa de gala para a minha “hora da estrela”, Ah, também farei uma lista e buscarei abraçar todas as pessoas que me foram caras e que me foram raras e abraçarei aquele cara, aquele cara de pau? Também abraçarei. E também aquele cara de mal.
Quero tomar banho de mar, re-lê meus poemas preferidos, ir aos lugares que me assustam e me livrar do que é repulsivo. Quero beijar meu filho, abraçar minha mãe. Quero correr e amar sem limites. Quero chorar até o rosto ficar dormente. E balançar os quadris inconseqüentemente. Não vou ler os jornais, pra mim tanto faz. E se não houver o amanhã, só não ouvirei o galo cantar. Quero encontrar alguém pra trabalhar no meu lugar. Alguém que tenha muito amor pelo o que faz e que saiba cativar. Quero ouvir o barulho que cada hora do dia tem. Do caos do meio-dia ao som do silêncio que a madrugada ecoa.
Quero assistir a meu filme favorito até decorar as falas que restam. Quero olhar mais uma vez no teu rosto que me ilumina como um farol. E quero dizer pra você tudo que ainda não disse e sempre achei que você não merecia saber. Quero voar como um pássaro. Num balão, num avião, num foguete, num pensamento ousado. Quero gritar. Quero jogar na mega-sena. Quero fazer sexo, quero fazer amor. Quero começar a dieta e não será na segunda-feira. Quero re-lê todos os e-mails enviados, recebidos e rascunhados. Cancelar minhas contas e deletar as mensagens. Quero coletar as imagens.
Vou ao estádio ver meu time jogar e nesse dia ele tem que golear. E também vou aprender a andar de bicicleta para suar. Na corrida contra o tempo vou andar a cavalo pra sentir o vento. E vou fazer o bem. Muito bem. Vou ouvir quem precisa conversar. Aconselhar quem precisa superar. E vou vê o sol raiar. Quero ir ao cinema. Ao show do meu artista favorito e também ao teatro para vê alguém dramatizar. Vou plantar uma árvore. Escrever um verso. Cancelar um compromisso importante sem motivo aparente.
No último dia, enfim, sentarei diante do sol e do mar, ouvindo as crianças sorrirem e a onda virar. Ficarei lá a esperar. Somente a espetar. A tão famosa hora de viver que está para chegar.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
sábado, 17 de maio de 2008
Casamento
Ele era o mais charmoso. Chegava sempre um pouco atrasado, trocava os óculos escuros pelos de grau, sentava nas primeiras cadeiras e ficava impaciente, olhando tudo ao redor, uma mosca que voava, um pessoa que cochilava, alguém que tentava sair à francesa. Um dia deixou escapar um simpático "boa tarde", depois os papos se estreitaram. Nomes, locais, preferências, datas, gestos, gostos, toques, saídas para jantar, planos, apresentações, descobriram que tinham tudo para fazer feliz um ao outro e logo, já estavam marcando a data do casamento.
Na igreja. Papel passado, branco, comunhão total de bens (mesmo sem ter quase nada) véu, grinalda, daminha de honra, buquet, convidados, presentes, promessas, ah, promessas: "amar, ser fiel, fazer feliz pra sempre ou até que a morte os separe". Era, era amor. Do mais sincero e profundo. Onde um só existia para o outro, como em todo amor. Em casa, a comidinha sempre pronta, roupinha sempre limpa, o abraço sempre apertado, o beijo sempre fogoso. Qualquer minutinho é pra namorar, seja o intervalo do futebol, seja o intervalo da novela. O que importa é dormir abraçado, estilo conchinha. Depois de uns dois, três anos, a primeira gravidez. Ela está linda grávida, um brilho diferente no olhar, um ar doce e acolhedor no sorriso, carregando “um príncipe” na barriga enquanto ele carrega a fama de "rei". Nasce o primeiro filho e com o bebê vêm planos, promessas e a certeza feminina de ter proporcionado uma alegria ímpar ao ver pela primeira vez o olhar do homem que exibe o filho como uma seleção exibe um troféu de copa do mundo e agradece a mulher com um beijo sutil.
Passam os anos, a criança começa a andar, a pedir, a estudar, os defeitos um do outro começam a ficar cada vez mais evidentes, brigam pelo horário, pelo canal de TV, pela família, pelas mudanças e perdas da vida, pelo cansaço, pelo estresse, pela a feira pra fazer e as contas pra pagar. Ele não vê mais o futebol em casa, no intervalo da novela ela troca de canal, e qualquer minutinho é hora de dormir, mas, de costas um pro outro, cada um com seu lençol. "Você está frio, distante" "Impressão sua, querida, estou preocupado com o trabalho, só isso, nossa criança vai bem na escola?". Começa a não voltar para o almoço e não chegar para o jantar. Começam as traições. O desejo de conhecer o novo. O novo lado, o novo método, o novo jeito, o novo beijo, o novo passo, o novo abraço. E tudo vira um descompasso...
Começam as intermináveis brigas, acusações, indiferenças e constatações lógicas do tipo “você não é mais a mesma pessoa por quem me apaixonei”. E não dá mais vontade de voltar pra casa depois do expediente. Qualquer lugar do mundo é melhor do que estar ao lado um do outro. Nesse meio tempo as palavras ditas, as ações, as mentiras juradas, já refletem conseqüências irreparáveis e a chegada da distância sentimental à essência da relação que não acaba aqui corrói. A chama se apaga, morre. Na cabeça a lembrança dos momentos plenos que os fizeram felizes para sempre, pelo sempre em que a paixão viveu.
Na igreja. Papel passado, branco, comunhão total de bens (mesmo sem ter quase nada) véu, grinalda, daminha de honra, buquet, convidados, presentes, promessas, ah, promessas: "amar, ser fiel, fazer feliz pra sempre ou até que a morte os separe". Era, era amor. Do mais sincero e profundo. Onde um só existia para o outro, como em todo amor. Em casa, a comidinha sempre pronta, roupinha sempre limpa, o abraço sempre apertado, o beijo sempre fogoso. Qualquer minutinho é pra namorar, seja o intervalo do futebol, seja o intervalo da novela. O que importa é dormir abraçado, estilo conchinha. Depois de uns dois, três anos, a primeira gravidez. Ela está linda grávida, um brilho diferente no olhar, um ar doce e acolhedor no sorriso, carregando “um príncipe” na barriga enquanto ele carrega a fama de "rei". Nasce o primeiro filho e com o bebê vêm planos, promessas e a certeza feminina de ter proporcionado uma alegria ímpar ao ver pela primeira vez o olhar do homem que exibe o filho como uma seleção exibe um troféu de copa do mundo e agradece a mulher com um beijo sutil.
Passam os anos, a criança começa a andar, a pedir, a estudar, os defeitos um do outro começam a ficar cada vez mais evidentes, brigam pelo horário, pelo canal de TV, pela família, pelas mudanças e perdas da vida, pelo cansaço, pelo estresse, pela a feira pra fazer e as contas pra pagar. Ele não vê mais o futebol em casa, no intervalo da novela ela troca de canal, e qualquer minutinho é hora de dormir, mas, de costas um pro outro, cada um com seu lençol. "Você está frio, distante" "Impressão sua, querida, estou preocupado com o trabalho, só isso, nossa criança vai bem na escola?". Começa a não voltar para o almoço e não chegar para o jantar. Começam as traições. O desejo de conhecer o novo. O novo lado, o novo método, o novo jeito, o novo beijo, o novo passo, o novo abraço. E tudo vira um descompasso...
Começam as intermináveis brigas, acusações, indiferenças e constatações lógicas do tipo “você não é mais a mesma pessoa por quem me apaixonei”. E não dá mais vontade de voltar pra casa depois do expediente. Qualquer lugar do mundo é melhor do que estar ao lado um do outro. Nesse meio tempo as palavras ditas, as ações, as mentiras juradas, já refletem conseqüências irreparáveis e a chegada da distância sentimental à essência da relação que não acaba aqui corrói. A chama se apaga, morre. Na cabeça a lembrança dos momentos plenos que os fizeram felizes para sempre, pelo sempre em que a paixão viveu.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Não vou mudar!
Eu não seria de outra maneira. Eu não seria menos falante, nem menos exagerada. Eu não me entregaria pela metade nas coisas de espírito e não seria sincera se não tivesse este sorrissão. Eu sou assim, um pouco menina, vezes mulher. Com medo do escuro, do desconhecido e das paixões intensas. Mas eu vivo. Eu não deixo de viver.
“Presa a canções, entregue as paixões...” , como diriam Sá & Guarabira.
“Presa a canções, entregue as paixões...” , como diriam Sá & Guarabira.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Chaleira
E se a gente pudesse ser uma chaleira? E se o gargalo abrisse e fechasse quando o vapor saísse, funcionando como uma boca que pudesse assobiar melodias bonitas, recitar Neruda ou simplesmente rachar o bico?
Poderiam inventar uma chaleira que lesse com a voz de Chico Buarque para me fazer dormir, ou talvez um conjunto de chaleiras que cantassem o refrão de “Apesar de você”, que é uma composição dele feita em 1970, uma das minhas raisons d’être, que é uma expressão em francês que eu conheço. Outra coisa boa seria se todo mundo pudesse terminar um relacionamento ileso.
Mas ninguém pode. Relacionamentos são ciclos e ciclos são círculos e círculos são fechados. Ninguém nunca está preparado e nem adianta ensaiar discursos. Geralmente, nada acontece como se foi planejado, geralmente o desarmamento pela outra parte é inevitável e geralmente uma das partes não espera a decisão da outra.
É difícil? É. Mas quem disse que a vida é fácil? Mais difícil é ser corrupto com os próprios sentimentos e muita gente é. O alívio que se transforma em paz quando nos livramos de algo que está se tornando repulsivo é tão grande quanto à da vontade presa, aliviada quando se faz xixi. É preciso tempo para se apaixonar. E quem tem tempo para emoções hoje em dia? Quando elas acontecem parecem ficção e a gente desconfia de cada ação espontânea. A verdade é que nos protegemos em cápsulas rigidamente protetoras para evitar momentos de felicidade. Principalmente quando é ocasionado por outra pessoa. Ah, mas falei em felicidade e a tal felicidade é um sentimento dependente.
Sempre o tempo e as escolhas que muitas vezes parecem o amor e o ódio que andam juntinhos, tentando iludir e manipular as nossas desculpas para não fazer o que não fazemos. Não viver o que não vivemos. Mas quê? Chega de viver pela metade. Não se devem temer as escolhas e a dúvida é uma invenção da insegurança, todo mundo sabe o que quer e realmente quer e o que é e verdadeiramente é.
“Mas por que eu não estou onde você está?” “Porque agora é melhor assim, mas não sei se pra sempre será.” “Não fique cético, não fique como eu.” “Como você? Você não acredita nem no refluxo da maré. Vive dizendo que ela não volta.” “E não volta. Observe... Volta?” “Não, não volta.” “Agora vá.” “Não me deixe ir.” “Por favor, vá.” “E quanto ao mar?” “A onda vira já.”
Poderiam inventar uma chaleira que lesse com a voz de Chico Buarque para me fazer dormir, ou talvez um conjunto de chaleiras que cantassem o refrão de “Apesar de você”, que é uma composição dele feita em 1970, uma das minhas raisons d’être, que é uma expressão em francês que eu conheço. Outra coisa boa seria se todo mundo pudesse terminar um relacionamento ileso.
Mas ninguém pode. Relacionamentos são ciclos e ciclos são círculos e círculos são fechados. Ninguém nunca está preparado e nem adianta ensaiar discursos. Geralmente, nada acontece como se foi planejado, geralmente o desarmamento pela outra parte é inevitável e geralmente uma das partes não espera a decisão da outra.
É difícil? É. Mas quem disse que a vida é fácil? Mais difícil é ser corrupto com os próprios sentimentos e muita gente é. O alívio que se transforma em paz quando nos livramos de algo que está se tornando repulsivo é tão grande quanto à da vontade presa, aliviada quando se faz xixi. É preciso tempo para se apaixonar. E quem tem tempo para emoções hoje em dia? Quando elas acontecem parecem ficção e a gente desconfia de cada ação espontânea. A verdade é que nos protegemos em cápsulas rigidamente protetoras para evitar momentos de felicidade. Principalmente quando é ocasionado por outra pessoa. Ah, mas falei em felicidade e a tal felicidade é um sentimento dependente.
Sempre o tempo e as escolhas que muitas vezes parecem o amor e o ódio que andam juntinhos, tentando iludir e manipular as nossas desculpas para não fazer o que não fazemos. Não viver o que não vivemos. Mas quê? Chega de viver pela metade. Não se devem temer as escolhas e a dúvida é uma invenção da insegurança, todo mundo sabe o que quer e realmente quer e o que é e verdadeiramente é.
“Mas por que eu não estou onde você está?” “Porque agora é melhor assim, mas não sei se pra sempre será.” “Não fique cético, não fique como eu.” “Como você? Você não acredita nem no refluxo da maré. Vive dizendo que ela não volta.” “E não volta. Observe... Volta?” “Não, não volta.” “Agora vá.” “Não me deixe ir.” “Por favor, vá.” “E quanto ao mar?” “A onda vira já.”
domingo, 4 de maio de 2008
Ninguém cala esse nosso amor!
Quando nasci, mais uma estrela no céu brilhou... Nascia comigo uma paixão... Paixão que por vezes me deu alegria, mas sempre acompanhada de uma agonia. Paixão que por vezes me trouxe profunda tristeza, mas sem nunca me deixar perder a certeza, certeza de que acima de qualquer coisa eu o amo. Um amor que por muitas vezes não correspondido, será o chamado amor bandido? Tentei ao máximo estar sempre ao seu lado, fiz de tudo para estar contigo! Ora voltava chorando, ora voltava sorrindo... Por mais fáceis que pareçam, nenhuma de nossas batalhas são simples. Ou perdíamos uma conquista, ou a conquistávamos no último segundo. Talvez por isso você seja tão diferente dos outros. Afinal, há coisas que só acontecem com você! Às vezes podemos pensar que isto tudo é puro azar, mas é esta a razão de tanto te amar. Hoje, ao invés do coração, tenho uma estrela solitária que bate no peito, e mesmo que a estrela se apague, tu és o glorioso, e hás de ser meu imenso prazer. Graças a Deus, BOTAFOGUENSE ATÉ MORRER !!!
=)
sábado, 3 de maio de 2008
Reminiscências
Foi o estresse. Entrar naquele lugar e caminhar naqueles corredores altos, com pisos antigos, pintura azul e reencontrar as pessoas que acompanharam os primeiros 16 anos da minha vida depois chorar de emoção não é comum do meu cotidiano.
Há aproximadamente um mês tenho respirado a Feira do Livro, trabalhado mais na Secretária de Educação e Ação Social do que no jornal, visitado escolas, conversado com professores e descoberto coisas que meu vão conhecimento jamais imaginara. Entre algumas desvantagens, trabalhar em jornal dá a oportunidade de conhecer vários mundos e realidades.
O Colégio Diocesano Santa Luzia era pra ter sido uma das primeiras escolas a visitar, mas não sei por que eu sempre adiava, até que chegou o inevitável dia. Antes de ir ligo para coordenação pedagógica e de repente: “É Larissa ex-aluna?” “É Larissa irmã de Keylla do 1° Ano II?” Sim, sim, sou eu. “Ah, Larissa que deu o comprimido para cólica ao professor de Literatura, menina, falam tanto nessa história e hoje você é Gerente de Marketing? Como foi isso?” Não sei! Talvez uma brincadeira do destino. Vamos em frente.
Quando chegamos ao estacionamento foi preciso o motorista chamar minha atenção para eu descer do carro, sentia uma saudade agonizante. A começar por Neguinho na praça e Zé Carlos no portão. Conheço o Diocesano melhor que a palma da minha mão esquerda. Conheço cada esconderijo usado para matar aula, conheço o palco do teatro, conheço a cadeira da presidência do grêmio, conheço as piscinas do parque aquático, que me trouxeram várias medalhas de Jern´s e Interdiocesanos e me deixaram de herança as “minhas costas e braços largos”, conheço a cantina, a biblioteca, a capela com a água benta pendurada na parede que molhávamos as canetas e compassos antes de fazer as provas de trigonometria (ecaaaaaa), a cozinha, o cheiro do café de Dona Maria (que ainda é o mesmo), a serraria de Seu Nilton, a sombra da mangueira e principalmente os sermões de Pe. Sátiro, que sempre ameaçava: “é a última vez que perdôo, vou ter que expulsar você” os professores já me mandavam direto para sala dele, não que eu fosse teimosa é que eu era líder de sala, presidente do grêmio e tinha que dar o tal exemplo, mas eu dizia “façam o que eu digo não o que faço”.
Eu voltei no tempo e estou nostálgica até agora. Reencontrar as mesmas pessoas na secretária, na cantina, na biblioteca, reencontrar alguns professores, entrar na capela, passar em baixo da mangueira, reencontrar tudo como deixei há mais de sete anos é entrar em contato com uma máquina retro, é voltar o tempo literalmente.
E por mais que eu tente expressar vai ser inenarrável. Só quem estudou no Diocesano vai entender o que estou em vão tentando dizer. Vai entender a emoção de vê o Carecão entusiasmadamente lotado nas partidas de futsal, vôlei ou basquete, gritando em coro: “Eu sou Diocesano, eu sou, e a gente vai ganhar e ninguém vai nos segurar! Oba! Oba!” ou simplesmente “Diocesano! Diocesano!”, uma torcida que intimidava qualquer adversário. Uma Fanfarra que parava a Avenida Alberto Maranhão nos desfiles cívicos, quando passava azulada derramando lágrimas e causando arrepios em quem era testemunha ocular e que hoje são reminiscências de uma ex- tocadora de pratos que no apito das cornetas de Márcio ou Roberto (eternos regentes) tocava orgulhosa demais. Boinas e golas de marinheiro. Dia da Pátria, de paz, de comemorar a Libertação dos Escravos e cantar o hino do Brasil, do Rio Grande do Norte, de Mossoró e do Dió sucessivamente. O chão que foi palco da invasão de Lampião era pelica para as “Andanças” da Fanfarra Marcelo Emílio que passava “tocando e cantando coisas de amor”. Estava encostada na janela que fica em frente à quadra interna onde a banda ensaiava os primeiros acordes e minha cabeça corria num túnel do tempo.
Segui para reunião meio lenta. Para minha surpresa o coordenador do ensino médio era meu ex-professor de gramática e produção de texto, a quem eu devo toda essa paixão pelo português e que já foi me abraçando fortemente com um olhar orgulhoso e emocionado, dizendo: “eu sempre soube que você ia comunicar, mas confesso, achei que fosse ser jornalista” e para justificar a decepção, comecei a citar outros colegas como Eduardo Magalhães e Ticianne Oliveira que seguiram a carreira na habilitação que ele esperou pra mim, “amo o marketing e a publicidade”,” tudo bem, minha filha, estás comunicando da mesma forma”. Lindos olhos azuis têm o meu eterno professor, que falava em Clarice, Cecília, Pessoa e Vinicius com uma transparente e confessa paixão.
Falo do projeto do jornal, apresento a programação, fecho os horários, convido-o para compor uma das mesas de debates, e quando estou me retirando da sala sou surpreendida por uma parede gigante atrás de mim com fotos da minha época, com fotos minhas, com fotos do meu último ano, que foram os cem anos do Colégio, respiro fundo e aquela voz rouca questiona: “você não lembrava que tinha sido da turma dos cem anos?” “Não, Mundinha, eu não lembrava. Quer dizer, lembrava, mas...” Abracei-a fortemente e evitava as lágrimas com tanta força que já estava querendo espirar.
Achei melhor me despedir daquele momento, olhando pro chão e me justificando: “foi ótimo revê-los, mas tenho que ir. Ainda tenho que visitar duas escolas”. Vou fugindo sem olhar pra trás quando de repente sentado na cadeira de balanço, observando os alunos saírem depois do toque duplo do sino estava Pe. Sátiro, sem a mesma disposição.
- Pe. Sátiro, bom dia, o senhor lembra-se de mim? (muita audácia minha)
- Como é seu nome?
- Eu sou Larissa, visitava muito sua sala nos anos 90. (Disse sorrindo)
- Lembro vagamente.
- Eu era da turma de Roberta Schumara (que hoje é professora de Educação Física lá), eu fiz aquela campanha “Faça uma criança sorrir”, que a gente ganhou o prêmio da Prefeitura, lembra?
Ele calou-se. Eu me despedi: “Deus abençoe o senhor. Muita saúde e paciência com nossos substitutos”. E fui saindo já não segurando as lágrimas até que ele exclamou:
- Larissa!
- Senhor...
- Não tome remédio para cólica achando que vai aliviar suas dores de cabeças, seu estresse. Respire fundo e viaje no tempo. Deus te abençoe.
- Mas, Padre Sátiro...
Não deu mais para segurar nada.
Abrindo uma rápida digressão: visitem suas ex- escolas e revejam essa história.
Texto escrito em Out/2007.
Há aproximadamente um mês tenho respirado a Feira do Livro, trabalhado mais na Secretária de Educação e Ação Social do que no jornal, visitado escolas, conversado com professores e descoberto coisas que meu vão conhecimento jamais imaginara. Entre algumas desvantagens, trabalhar em jornal dá a oportunidade de conhecer vários mundos e realidades.
O Colégio Diocesano Santa Luzia era pra ter sido uma das primeiras escolas a visitar, mas não sei por que eu sempre adiava, até que chegou o inevitável dia. Antes de ir ligo para coordenação pedagógica e de repente: “É Larissa ex-aluna?” “É Larissa irmã de Keylla do 1° Ano II?” Sim, sim, sou eu. “Ah, Larissa que deu o comprimido para cólica ao professor de Literatura, menina, falam tanto nessa história e hoje você é Gerente de Marketing? Como foi isso?” Não sei! Talvez uma brincadeira do destino. Vamos em frente.
Quando chegamos ao estacionamento foi preciso o motorista chamar minha atenção para eu descer do carro, sentia uma saudade agonizante. A começar por Neguinho na praça e Zé Carlos no portão. Conheço o Diocesano melhor que a palma da minha mão esquerda. Conheço cada esconderijo usado para matar aula, conheço o palco do teatro, conheço a cadeira da presidência do grêmio, conheço as piscinas do parque aquático, que me trouxeram várias medalhas de Jern´s e Interdiocesanos e me deixaram de herança as “minhas costas e braços largos”, conheço a cantina, a biblioteca, a capela com a água benta pendurada na parede que molhávamos as canetas e compassos antes de fazer as provas de trigonometria (ecaaaaaa), a cozinha, o cheiro do café de Dona Maria (que ainda é o mesmo), a serraria de Seu Nilton, a sombra da mangueira e principalmente os sermões de Pe. Sátiro, que sempre ameaçava: “é a última vez que perdôo, vou ter que expulsar você” os professores já me mandavam direto para sala dele, não que eu fosse teimosa é que eu era líder de sala, presidente do grêmio e tinha que dar o tal exemplo, mas eu dizia “façam o que eu digo não o que faço”.
Eu voltei no tempo e estou nostálgica até agora. Reencontrar as mesmas pessoas na secretária, na cantina, na biblioteca, reencontrar alguns professores, entrar na capela, passar em baixo da mangueira, reencontrar tudo como deixei há mais de sete anos é entrar em contato com uma máquina retro, é voltar o tempo literalmente.
E por mais que eu tente expressar vai ser inenarrável. Só quem estudou no Diocesano vai entender o que estou em vão tentando dizer. Vai entender a emoção de vê o Carecão entusiasmadamente lotado nas partidas de futsal, vôlei ou basquete, gritando em coro: “Eu sou Diocesano, eu sou, e a gente vai ganhar e ninguém vai nos segurar! Oba! Oba!” ou simplesmente “Diocesano! Diocesano!”, uma torcida que intimidava qualquer adversário. Uma Fanfarra que parava a Avenida Alberto Maranhão nos desfiles cívicos, quando passava azulada derramando lágrimas e causando arrepios em quem era testemunha ocular e que hoje são reminiscências de uma ex- tocadora de pratos que no apito das cornetas de Márcio ou Roberto (eternos regentes) tocava orgulhosa demais. Boinas e golas de marinheiro. Dia da Pátria, de paz, de comemorar a Libertação dos Escravos e cantar o hino do Brasil, do Rio Grande do Norte, de Mossoró e do Dió sucessivamente. O chão que foi palco da invasão de Lampião era pelica para as “Andanças” da Fanfarra Marcelo Emílio que passava “tocando e cantando coisas de amor”. Estava encostada na janela que fica em frente à quadra interna onde a banda ensaiava os primeiros acordes e minha cabeça corria num túnel do tempo.
Segui para reunião meio lenta. Para minha surpresa o coordenador do ensino médio era meu ex-professor de gramática e produção de texto, a quem eu devo toda essa paixão pelo português e que já foi me abraçando fortemente com um olhar orgulhoso e emocionado, dizendo: “eu sempre soube que você ia comunicar, mas confesso, achei que fosse ser jornalista” e para justificar a decepção, comecei a citar outros colegas como Eduardo Magalhães e Ticianne Oliveira que seguiram a carreira na habilitação que ele esperou pra mim, “amo o marketing e a publicidade”,” tudo bem, minha filha, estás comunicando da mesma forma”. Lindos olhos azuis têm o meu eterno professor, que falava em Clarice, Cecília, Pessoa e Vinicius com uma transparente e confessa paixão.
Falo do projeto do jornal, apresento a programação, fecho os horários, convido-o para compor uma das mesas de debates, e quando estou me retirando da sala sou surpreendida por uma parede gigante atrás de mim com fotos da minha época, com fotos minhas, com fotos do meu último ano, que foram os cem anos do Colégio, respiro fundo e aquela voz rouca questiona: “você não lembrava que tinha sido da turma dos cem anos?” “Não, Mundinha, eu não lembrava. Quer dizer, lembrava, mas...” Abracei-a fortemente e evitava as lágrimas com tanta força que já estava querendo espirar.
Achei melhor me despedir daquele momento, olhando pro chão e me justificando: “foi ótimo revê-los, mas tenho que ir. Ainda tenho que visitar duas escolas”. Vou fugindo sem olhar pra trás quando de repente sentado na cadeira de balanço, observando os alunos saírem depois do toque duplo do sino estava Pe. Sátiro, sem a mesma disposição.
- Pe. Sátiro, bom dia, o senhor lembra-se de mim? (muita audácia minha)
- Como é seu nome?
- Eu sou Larissa, visitava muito sua sala nos anos 90. (Disse sorrindo)
- Lembro vagamente.
- Eu era da turma de Roberta Schumara (que hoje é professora de Educação Física lá), eu fiz aquela campanha “Faça uma criança sorrir”, que a gente ganhou o prêmio da Prefeitura, lembra?
Ele calou-se. Eu me despedi: “Deus abençoe o senhor. Muita saúde e paciência com nossos substitutos”. E fui saindo já não segurando as lágrimas até que ele exclamou:
- Larissa!
- Senhor...
- Não tome remédio para cólica achando que vai aliviar suas dores de cabeças, seu estresse. Respire fundo e viaje no tempo. Deus te abençoe.
- Mas, Padre Sátiro...
Não deu mais para segurar nada.
Abrindo uma rápida digressão: visitem suas ex- escolas e revejam essa história.
Texto escrito em Out/2007.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Como assim? É. Um Blog.
Resolvi sim, entrei nesse mundo de loucos.
Se é pra conversar com o travesseiro ou confessar para quem um dia vai usar minhas idéias/ideais contra mim que seja num blog. Para que eu possa discutir e saber o que pensam também as pessoas. Saber o que as pessoas pensam...
Lembrando que não escrevo para os outros... Escrevo para mim. É minha forma fiel de vomitar meu eu, simples. Limpo, sereno, intenso. Fiel... E só. ;)
Se é pra conversar com o travesseiro ou confessar para quem um dia vai usar minhas idéias/ideais contra mim que seja num blog. Para que eu possa discutir e saber o que pensam também as pessoas. Saber o que as pessoas pensam...
Lembrando que não escrevo para os outros... Escrevo para mim. É minha forma fiel de vomitar meu eu, simples. Limpo, sereno, intenso. Fiel... E só. ;)
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