Um refúgio. Isso. É disso que eu preciso. Eu preciso fugir. Vou agora mesmo fazer as malas, pegar uns trocados, vender umas coisas e vou embora. Não contem pra ninguém. Não deixarei bilhetes e se sentirem falta, ahhh, "diz que fui por aí..." levando uma caneta e um papel debaixo do braço. Procurarei emprego em algum lugar bem longe daqui,Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, Londres, qualquer lugarque esteja longe dessa angústia.
Preciso de uma vida nova e de muita audácia. Não venha comigo, euquero ir sozinha. Eu nunca quis tanto ir sozinha para algum lugar,estar sozinha, me perder, me encontrar, conhecer pessoas novas, cruzar novos horizontes, conhecer novas paixões. Ahh, quem sabe aquela viagem pelo Caminho de Santiago não está no momento certo!? Isso, Chile. Adoro o Chile. É um ótimo momento para reencontrar-me com Neruda e renascer nas suas rimas.
Qualquer lugar que não seja aqui. O problema não é o mundo, sou eu que finjo em sorrisos ser feliz. Posso ouvir a voz do Chico Buarque cantando 'O que será que será?' no meu ouvido. E quer saber? Não tem mais jeito de dissimular. Eu não agüento mais priorizar a felicidade dos outros, poupar dores que não são minhas e me causar tanta dor. Equem vai me entender? Quem vai me apoiar?
O destino que vai dizer se a minha decisão será sábia ou não. Mas também eu nunca tive quem tirasse os meus medos. Sempre enfrentei e vi desabrochar a dor para ficar cada vez mais forte. Fechei meu corpo aferro e fogo, os males do mundo em mim batem e voltam para onde nunca deveriam ter saído.
Vou. E vou agora. Não fiquem na janela me esperando voltar. Não voltarei. Não me digam que o 'amor é lindo', que eu tenho tudo que qualquer um quer ter, que eu estou louca, não vai adiantar. Eu não sei pensar e se for ser racional vou fingir. Recomeçar. Simplificar ao amanhecer. Vou embora e não venha comigo.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Só pra mim
E então me descubro poeta,
Sem rima ou métrica,
Sem contar os versos,
Nem saber diversos.
Uma fantástica descoberta.
Rodopio.
Procuro dentro de mim aquele “sim”,
Que não é seu.
E quando me encontro,
Estou aqui,
Perdida.
Nua, sua,
Intensa, inteira.
Coração aberto, olhos fechados.
O tempo todo do desejo.
Teu corpo,
Teu cheiro,
Teu beijo.
Tuas mãos a me dominar.
Teu olhar.
O pensamento no momento de você chegar,
E cada segundo que passa,
Estou mais entregue.
Dorme.
Dorme esse ódio nos braços do amor,
E quando acordares,
Acordas sonhando, aqui,
Nos braços da vida.
E então descubra quem você é,
E seja pra mim...
Eu sempre te quis,
Assim.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O antigo é natural
Nasci na época errada, é fato. Passo horas pensando como é que não posso ter vivido as décadas de 50, 60, 70, e como não consigo ser bem resolvida com o tempo me realizo comprando coisas antigas.
Essa minha mania está virando uma fixação. Ano passado enquanto não arrumei uma vitrola e desenterrei todos os vinis da casa do meu avô eu não sosseguei. Passei meses ouvindo sambas antigos, bossas, resgatando Belchior, 14Bis e por aí vai. Essa paixão passa por literatura, cinema, TV, música, enfim, às vezes morro de vergonha de ter 24 anos e só me sentir bem conversando com os amigos dos meus pais. Claro, tenho amigos da minha idade e os adoro, mas os assuntos com quem foi fã de Louise Brooks, quem viveu a ditadura, viu Pelé estrear na copa de 1958 e adora um samba de raiz me trazem muita paz. Eu sinto mais vontade de viver.
Morro de ciúmes das minhas coisas. Ninguém ousa ligar a vitrola, limpar a Remington 25, nem espanar os livros guardo-os em ordem alfabética, minha mini biblioteca já passa dos 300 títulos e meu maior prazer é limpá-los nos finais de semana, ouvindo os vinis. Tenho umas coisas legais, gravações do Repórter Esso, vídeos de propagandas antigas e imagens de anúncios que a gente nunca esquece. Passo horas vendo as mesmas coisas, vivendo o passado que não vivi.
Essa semana indo pra Natal parei num restaurante que tinha um Projetor de Cinema 16mm IEC Compact, lindo, dos tempos em que Louis Malle formou a nouvelle vague. Enlouqueci. Usei de todos os argumentos possíveis para a dona do restaurante me vender. Tirei fotos (vejam no Orkut como é lindo), quase implorei. Não teve jeito. Ela foi enfática “há coisas na vida que não tem preço”. E ela tem razão. E eu estou moendo até agora como rói uma pessoa apaixonada.
Compreensivelmente, cheguei a Natal corri pro Alecrim procurando um projetor daqueles e não achei. Fui à Ribeira, tomei um refrigerante KS no saudoso Beco da Lama e nada do meu projetor.
A única coisa que me fez esquecer foi chegar ao hotel, ligar a TV e vê Claudia Cardinale encantadoramente linda aos 70 anos falando da “Pantera – Cor- de - Rosa”. E lembrei automaticamente da sua atuação em Fitzcarraldo, de Herzog, excelente atriz. Eu gosto das mulheres que se deixam envelhecer sem esconder-se, demonstram o respeito que têm consigo o que é raro em mulheres muito belas. Eu gosto de antiguidades. Gosto de observar os designs antigos - são simétricos. Até as mulheres eram mais bonitas antigamente, eram naturais.
Essa minha mania está virando uma fixação. Ano passado enquanto não arrumei uma vitrola e desenterrei todos os vinis da casa do meu avô eu não sosseguei. Passei meses ouvindo sambas antigos, bossas, resgatando Belchior, 14Bis e por aí vai. Essa paixão passa por literatura, cinema, TV, música, enfim, às vezes morro de vergonha de ter 24 anos e só me sentir bem conversando com os amigos dos meus pais. Claro, tenho amigos da minha idade e os adoro, mas os assuntos com quem foi fã de Louise Brooks, quem viveu a ditadura, viu Pelé estrear na copa de 1958 e adora um samba de raiz me trazem muita paz. Eu sinto mais vontade de viver.
Morro de ciúmes das minhas coisas. Ninguém ousa ligar a vitrola, limpar a Remington 25, nem espanar os livros guardo-os em ordem alfabética, minha mini biblioteca já passa dos 300 títulos e meu maior prazer é limpá-los nos finais de semana, ouvindo os vinis. Tenho umas coisas legais, gravações do Repórter Esso, vídeos de propagandas antigas e imagens de anúncios que a gente nunca esquece. Passo horas vendo as mesmas coisas, vivendo o passado que não vivi.
Essa semana indo pra Natal parei num restaurante que tinha um Projetor de Cinema 16mm IEC Compact, lindo, dos tempos em que Louis Malle formou a nouvelle vague. Enlouqueci. Usei de todos os argumentos possíveis para a dona do restaurante me vender. Tirei fotos (vejam no Orkut como é lindo), quase implorei. Não teve jeito. Ela foi enfática “há coisas na vida que não tem preço”. E ela tem razão. E eu estou moendo até agora como rói uma pessoa apaixonada.
Compreensivelmente, cheguei a Natal corri pro Alecrim procurando um projetor daqueles e não achei. Fui à Ribeira, tomei um refrigerante KS no saudoso Beco da Lama e nada do meu projetor.
A única coisa que me fez esquecer foi chegar ao hotel, ligar a TV e vê Claudia Cardinale encantadoramente linda aos 70 anos falando da “Pantera – Cor- de - Rosa”. E lembrei automaticamente da sua atuação em Fitzcarraldo, de Herzog, excelente atriz. Eu gosto das mulheres que se deixam envelhecer sem esconder-se, demonstram o respeito que têm consigo o que é raro em mulheres muito belas. Eu gosto de antiguidades. Gosto de observar os designs antigos - são simétricos. Até as mulheres eram mais bonitas antigamente, eram naturais.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O amor é primavera
Clarice Lispector disse que “quem falou de primavera sem vê o teu sorriso falou sem saber o que era”, certamente deveria ser um riso paralisante para inspirar uma comparação de Clarice com a estação mais bela a esperançosa do ano – minha preferida por sinal. Conheci essa frase através de um namorado cantador que tentava me conquistar com palavras bonitas. Conseguiu.
Eu não sou de fácil amor como sou de fácil riso. Sou dura na queda. Difícil de me apaixonar. Sei o valor das palavras e não costumo sair por aí dizendo que quero sem realmente querer, nem acreditando em tudo que me dizem. Não minto nem nego os meus desejos. E acho um crime interior não matá-los. Demoro a me entregar porque sei que não vivo paixões pela metade. Não aprendi a viver de meio e média. Comigo 9 é 90 e as vontades não ficam para trás. As entregas são totais. Eu falo o que sinto e sei que a palavra é uma arma na sedução.
Vivi poucas paixões não correspondidas, lembro de algumas da infância e pré-adolescência, mas no geral os poucos homens que quis na minha vida também me quiseram. Conto nos dedos de uma mão os namorados que tive e nas duas as bocas que beijei. Relacionamento para mim tem que ter história, tem que ter encanto. Sabe aquele tipo de pessoa que só de olhar o olhar a gente sabe o desejo? Pois é... Tem que ter integridade nas coisas de espírito.
Minha irmã de 15 anos está apaixonada. O primeiro amor. Vive pelos cantos da casa ouvindo hinos internacionais do nível de How deep is your love - Bee Gees, passa horas olhando para o celular, o telefone de casa não pode tocar que ela corre para atender. E pelo o nível de irritabilidade e estresse que ela anda a paixão não é correspondida. Reconheci os sintomas. Ela é meu oposto. Introvertida, contida, muito séria e de uma antipatia educada. Não faz a mínima questão de cativar.
Hoje a flagrei lendo o meu diário – fiz diário dos 15 aos 18 anos – e ela estava justamente na fase que descrevia com detalhes o início do meu namoro. Segredos, dúvidas, medos e inseguranças hoje, tão bobos e banais que quando sentei para ler com ela fiquei com vergonha da falta de maturidade e excesso de fantasia, principalmente quando ela alarmava algum detalhe. Tentei arrancar alguma coisa, oferecer alguns conselhos subentendidos, mas não adiantou ela está descrente que o amor exista e afirmando convicta que nunca mais vai se apaixonar. Ledo engano.
Mas ela precisa viver, romper, rasgar o peito de dor. A ‘dor de cotovelo’ é doce. O choro é ardente, parece que quanto mais a gente quer esquecer, mais se apaixona. E é uma dor injusta, mas boa de sentir. Quando passa a sensação é de liberdade e fortaleza. Minha vontade era que ela nunca sofresse e nunca quisesse paixões impossíveis, nunca desejasse o proibido, vivesse sempre os contos, fosse sempre fada e nunca conhecesse os sapos, nem perdesse os encantos. Nunca pagasse alto pela realização dos seus desejos. Só que infelizmente essa é apenas a primeira decepção dela e nem é tão intensa assim.
Hoje, com um pouco mais de idade e alguns romances de experiência eu pude dizer para ela; um dia, certamente, ela há de encontrar alguém que explodirá todas as suas sensações, a levará por todos os caminhos, a fará fechar os olhos, entregar as mãos e matará todas as vontades e desejos. Um dia ela há de encontrar alguém que vai olhá-la nos olhos, abraçar forte, dizer que ela é a melhor mulher do mundo e jurar fazê-la feliz pelo o resto da vida e ainda que a faça sofrer, vai fazê-la feliz. O tempo vai passar, ela vai ter raiva, vai se decepcionar várias vezes, se irritar com freqüência e depois de um simples passeio numa tarde de domingo os olhares vão se encontrar como na primeira vez, a paixão reacenderá como um vulcão em chamas, fazendo ressurgir um riso mais bonito que a primavera. E será assim, gostoso demais, pelo sempre que viver. Na hora que esse cara aparecer, ela vai saber. Ele será diferente de todos os outros.
Eu não sou de fácil amor como sou de fácil riso. Sou dura na queda. Difícil de me apaixonar. Sei o valor das palavras e não costumo sair por aí dizendo que quero sem realmente querer, nem acreditando em tudo que me dizem. Não minto nem nego os meus desejos. E acho um crime interior não matá-los. Demoro a me entregar porque sei que não vivo paixões pela metade. Não aprendi a viver de meio e média. Comigo 9 é 90 e as vontades não ficam para trás. As entregas são totais. Eu falo o que sinto e sei que a palavra é uma arma na sedução.
Vivi poucas paixões não correspondidas, lembro de algumas da infância e pré-adolescência, mas no geral os poucos homens que quis na minha vida também me quiseram. Conto nos dedos de uma mão os namorados que tive e nas duas as bocas que beijei. Relacionamento para mim tem que ter história, tem que ter encanto. Sabe aquele tipo de pessoa que só de olhar o olhar a gente sabe o desejo? Pois é... Tem que ter integridade nas coisas de espírito.
Minha irmã de 15 anos está apaixonada. O primeiro amor. Vive pelos cantos da casa ouvindo hinos internacionais do nível de How deep is your love - Bee Gees, passa horas olhando para o celular, o telefone de casa não pode tocar que ela corre para atender. E pelo o nível de irritabilidade e estresse que ela anda a paixão não é correspondida. Reconheci os sintomas. Ela é meu oposto. Introvertida, contida, muito séria e de uma antipatia educada. Não faz a mínima questão de cativar.
Hoje a flagrei lendo o meu diário – fiz diário dos 15 aos 18 anos – e ela estava justamente na fase que descrevia com detalhes o início do meu namoro. Segredos, dúvidas, medos e inseguranças hoje, tão bobos e banais que quando sentei para ler com ela fiquei com vergonha da falta de maturidade e excesso de fantasia, principalmente quando ela alarmava algum detalhe. Tentei arrancar alguma coisa, oferecer alguns conselhos subentendidos, mas não adiantou ela está descrente que o amor exista e afirmando convicta que nunca mais vai se apaixonar. Ledo engano.
Mas ela precisa viver, romper, rasgar o peito de dor. A ‘dor de cotovelo’ é doce. O choro é ardente, parece que quanto mais a gente quer esquecer, mais se apaixona. E é uma dor injusta, mas boa de sentir. Quando passa a sensação é de liberdade e fortaleza. Minha vontade era que ela nunca sofresse e nunca quisesse paixões impossíveis, nunca desejasse o proibido, vivesse sempre os contos, fosse sempre fada e nunca conhecesse os sapos, nem perdesse os encantos. Nunca pagasse alto pela realização dos seus desejos. Só que infelizmente essa é apenas a primeira decepção dela e nem é tão intensa assim.
Hoje, com um pouco mais de idade e alguns romances de experiência eu pude dizer para ela; um dia, certamente, ela há de encontrar alguém que explodirá todas as suas sensações, a levará por todos os caminhos, a fará fechar os olhos, entregar as mãos e matará todas as vontades e desejos. Um dia ela há de encontrar alguém que vai olhá-la nos olhos, abraçar forte, dizer que ela é a melhor mulher do mundo e jurar fazê-la feliz pelo o resto da vida e ainda que a faça sofrer, vai fazê-la feliz. O tempo vai passar, ela vai ter raiva, vai se decepcionar várias vezes, se irritar com freqüência e depois de um simples passeio numa tarde de domingo os olhares vão se encontrar como na primeira vez, a paixão reacenderá como um vulcão em chamas, fazendo ressurgir um riso mais bonito que a primavera. E será assim, gostoso demais, pelo sempre que viver. Na hora que esse cara aparecer, ela vai saber. Ele será diferente de todos os outros.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Eu vi o amor
“Coração quebrado tem cura: a paz de não precisar mais aguardar a perfeição que não existe” diz a escritora Fernanda Young em um dos seus livros. Observe o quanto é difícil encontrar uma história de amor atual que seja feliz.
Semana passada minha mãe e meu ‘paidrasto’ reafirmaram uma união de vinte anos. Casaram novamente. Na minha presença, pela segunda vez, e na presença das minhas irmãs. Uma cerimônia linda de renovo, de promessas, de juras; umas secretas, outras não e principalmente da reafirmação pela certeza de terem feito a escolha certa um pelo outro. Foi um momento inesquecível e emocionante para nossa família.
Temos uma vida muito simples, e por conta das limitações da minha irmã meus pais se privam dos programas sociais, substituindo um ao outro quando é algo imperdível. Na minha casa a essência é priorizada. Nada é superficial. Eles nos ensinaram a valorizar cada presente de Dia da Criança e cada pessoa que conhecêssemos na vida. O carinho deles é de uma cumplicidade tão grande que eu vejo amor no olhar até nas horas de desentendimentos.
Uma prima atrevida perguntou a mamãe “qual o segredo para tantos anos de convivência sem abusar?” e ela respondeu “-eu abusei! Abusei, várias vezes. Mas a cada amanhecer eu o olhava como se fosse à primeira vez e me apaixonava novamente”. O problema é que o nosso coração é automaticamente programado para esperar as coisas terminarem. A gente começa um trabalho pensando em terminar, engravida pensando na hora do nascimento e casa pensando na separação. Já ouvi várias vezes “ahhh, vou casar se não der certo, separo” por isso, não casei ainda, porque ninguém casa só. Não quero casar para viver um conto de fadas – para a felicidade da Fernanda Young o meu coração já foi quebrado várias vezes- e quero casar para chegar ao fim do dia fazendo abrigo do sorriso de alguém. Casamento não é olhar um pro outro o tempo inteiro e sim, os dois olharem juntos na mesma direção.
E eis o desafio que muitos não conseguem: ter o mesmo objetivo, atingir as mesmas metas. Daí vem o descompasso e automaticamente lembro-me do consolo de Caio Fernando Abreu: "Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."
E por que não ‘ser novo’ agora? Por que não agir como se fosse à primeira vez, o primeiro encontro? Sair pra vê o pôr do sol, pra dançar, pra namorar no cinema, na praia, no park, na praça. Se não há vontade de viver simplicidade com quem está ao lado, não sinto amor, não ouço o som orgânico que faz a paixão, não vejo felicidade no olhar.
Eu vi o amor na manhã serena da última sexta-feira, ele caminhou lento, livre, fraterno, terno, eterno. Fechei os olhos e quando os abri, observei, eles estavam olhando na mesma direção. Na nossa direção.
Semana passada minha mãe e meu ‘paidrasto’ reafirmaram uma união de vinte anos. Casaram novamente. Na minha presença, pela segunda vez, e na presença das minhas irmãs. Uma cerimônia linda de renovo, de promessas, de juras; umas secretas, outras não e principalmente da reafirmação pela certeza de terem feito a escolha certa um pelo outro. Foi um momento inesquecível e emocionante para nossa família.
Temos uma vida muito simples, e por conta das limitações da minha irmã meus pais se privam dos programas sociais, substituindo um ao outro quando é algo imperdível. Na minha casa a essência é priorizada. Nada é superficial. Eles nos ensinaram a valorizar cada presente de Dia da Criança e cada pessoa que conhecêssemos na vida. O carinho deles é de uma cumplicidade tão grande que eu vejo amor no olhar até nas horas de desentendimentos.
Uma prima atrevida perguntou a mamãe “qual o segredo para tantos anos de convivência sem abusar?” e ela respondeu “-eu abusei! Abusei, várias vezes. Mas a cada amanhecer eu o olhava como se fosse à primeira vez e me apaixonava novamente”. O problema é que o nosso coração é automaticamente programado para esperar as coisas terminarem. A gente começa um trabalho pensando em terminar, engravida pensando na hora do nascimento e casa pensando na separação. Já ouvi várias vezes “ahhh, vou casar se não der certo, separo” por isso, não casei ainda, porque ninguém casa só. Não quero casar para viver um conto de fadas – para a felicidade da Fernanda Young o meu coração já foi quebrado várias vezes- e quero casar para chegar ao fim do dia fazendo abrigo do sorriso de alguém. Casamento não é olhar um pro outro o tempo inteiro e sim, os dois olharem juntos na mesma direção.
E eis o desafio que muitos não conseguem: ter o mesmo objetivo, atingir as mesmas metas. Daí vem o descompasso e automaticamente lembro-me do consolo de Caio Fernando Abreu: "Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."
E por que não ‘ser novo’ agora? Por que não agir como se fosse à primeira vez, o primeiro encontro? Sair pra vê o pôr do sol, pra dançar, pra namorar no cinema, na praia, no park, na praça. Se não há vontade de viver simplicidade com quem está ao lado, não sinto amor, não ouço o som orgânico que faz a paixão, não vejo felicidade no olhar.
Eu vi o amor na manhã serena da última sexta-feira, ele caminhou lento, livre, fraterno, terno, eterno. Fechei os olhos e quando os abri, observei, eles estavam olhando na mesma direção. Na nossa direção.
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